sábado, abril 19, 2014

O REGRESSO DO FUNCHAL

O REGRESSO DO PAQUETE FUNCHAL

Por Luís Miguel Correia 

(Artigo publicado na revista CRUZEIROS, edição nº 11)


A grande sensação nos meios marítimos e de cruzeiros portugueses em 2013 foi o regresso espectacular do paquete FUNCHAL à actividade de cruzeiros, por iniciativa da nova empresa Portuscale Cruises.
O dia 1 de Agosto de 2013 acrescentou mais uma data importante na já longa história do FUNCHAL, com a inauguração oficial do navio pelo primeiro ministro Passos Coelho.
A cerimónia decorreu a bordo do FUNCHAL na doca seca, no estaleiro da Rocha, e contou com a presença do armador Rui Alegre, e de muitos convidados da Portuscale Cruises.
Foi o virar de página do período mais difícil da história do FUNCHAL até hoje. Após conclusão do programa de cruzeiros de 2010, o navio fora imobilizado em Lisboa pela empresa Classic International Cruises em Setembro desse ano, com o futuro pendente devido à necessidade de reconstrução segundo as novas regras da convenção SOLAS, implementadas em Outubro de 2010. O armador anterior, considerou que, apesar da idade, – o FUNCHAL estava com 49 anos – um conjunto de características únicas, nomeadamente o baixo consumo de combustível e economia de operação, a dimensão familiar e a notoriedade junto de uma clientela diversificada, justificavam um investimentos de cerca de 10 milhões de euros na renovação e prolongamento da vida útil do FUNCHAL.
Este projecto chegou a arrancar mas foi interrompido em Julho de 2011 por constrangimentos financeiros, e o navio foi-se degradando, acabando a companhia por falir no final de 2012, quando o FUNCHAL ficou abandonado na ponte-cais da Matinha, sem tripulação. Quando tudo indicava que o destino próximo do FUNCHAL seria a venda para sucata, a boa estrela que sempre havia protegido o nosso último paquete tradicional proporcionou novas perspectivas.
Em Janeiro deste ano o FUNCHAL foi comprado por uma nova empresa criada por Rui Alegre e de imediato recomeçaram os trabalhos de modernização, recuperando-se o que entretanto se havia degradado desnecessariamente e introduzindo novos padrões de qualidade ainda mais exigentes comparativamente ao projecto original. O processo de recuperação do FUNCHAL entrou logo em ritmo crescente: o navio voltou a ter tripulação, os cabos de amarração foram de imediato substituídos, pois os que se encontravam a bordo estavam totalmente degradados, recomeçou a ver-se pessoal a trabalhar em reparações. Em paralelo foi criada de raiz uma empresa operadora, a Portuscale Cruises, e deram-se os primeiros passos na área comercial.
O renascimento do FUNCHAL foi entretanto anunciado por todo o País, em cartazes “outdoors”, publicitando a “Grande Viagem Inaugural”, a sair de Lisboa em Agosto: uma primeira série de cruzeiros à Escandinávia e Europa do Norte, recuperando a ligação antiga do FUNCHAL ao mercado de cruzeiros sueco, com uma série de viagens a decorrer de 6 de Agosto a 20 de Setembro, seguindo-se um cruzeiro aos Açores, de 20 a 29 de Setembro a partir de Lisboa, e um cruzeiro pelo Mediterrâneo, com passageiros franceses, em Outubro.
Ponto alto neste percurso rápido de regresso do FUNCHAL ao activo foi a transferência do paquete do cais da Matinha para a Rocha do Conde de Óbidos, a 3 de Junho, embandeirado em arco a adivinhar já as metamorfoses por que iria passar na reparação mais importante a que foi submetido desde 1973, quando mudou as máquinas. Centenas de operários e técnicos tomaram conta do FUNCHAL: renovou-se o casco e as principais estruturas do navio, com muitas toneladas de aço substituídas, o casco e grande parte das superstruturas foram decapadas, reconstruiram-se os interiores – espaços públicos e camarotes, actualizaram-se os equipamentos de navegação, reconstruíu-se a ponte de comando, instalou-se um propulsor de proa, renovaram-se, as máquinas e geradores, a instalação de ar condicionado, a cozinha, os encanamentos, todos os sistemas e equipamentos de segurança, ampliaram-se os tombadilhos, solários e bares exteriores, fez-se uma piscina nova, enfim o FUNCHAL foi renovado da proa à popa.
À medida que avançaram as reparações, foi aumentando o volume das intervenções a efectuar, o que acabou por se traduzir em mais tempo de estaleiro e na necessidade de reprogramar a introdução do navio, com o cancelamento dos primeiros três cruzeiros previstos para o período de 6 de Agosto a 2 de Setembro.
Acompanhei de perto toda a reabilitação do FUNCHAL e não é fácil descrever o ritmo com que se sucederam as mudanças: a chaminé foi pintada de amarelo a 10 de Julho, a 12 pintou-se o casco de azul escuro, quase preto, e o FUNCHAL foi retomando toda a dignidade de outros tempos, com novas cores inspiradas nas da antiga Empresa Insulana.
Na festa de inauguração a 1 de Agosto foi içada a bandeira nacional à popa e o cónego Nuno Isidro deu a bênção ao paquete, após o que discursaram o armador e o primeiro ministro. Passos Coelho realçou a importância da recuperação do FUNCHAL, à luz das perspectivas de desenvolvimento da economia do mar e do turismo, elogiando a capacidade empreendedora de Rui Alegre e destacando a recuperação do FUNCHAL como exemplo das acções necessárias para se devolver a esperança a Portugal. Seguiu-se a actuação dos artistas Carlos Guilherme, Carlos do Carmo e Inês Santos, e a “festa do FUNCHAL” teve ainda fogo de artifício. No final os convidados foram presenteados com o livro “Paquete Funchal Ser do Mar”, publicado expressamente pela Portuscale em homenagem ao FUNCHAL.
Entrando na contagem final para o regresso do FUNCHAL ao mar, o navio deixou o estaleiro da Navalrocha na manhã de 13 de Agosto após ter permanecido 72 dias na doca seca nº 1, e foi atracar à Ponta da Rocha do Conde de Óbidos, onde prosseguiram os trabalhos finais e se procedeu ao abastecimento. A 15 de Agosto de tarde o FUNCHAL largou finalmente para provas de mar e saiu a barra do Tejo, fazendo uma série de experiências ao largo do cabo Espichel, para regressar ao cais da Rocha ao anoitecer. Na noite de 20 de Agosto o FUNCHAL largou do cais e foi fundear no Mar da Palha onde prosseguiram os preparativos finais para a viagem até Gotemburgo, que teve início ao amanhecer de 22 de Agosto.
O FUNCHAL chegou a Gotemburgo na tarde de 26 de Agosto, sem que tivesse sido possível solucionar os últimos problemas técnicos ainda em aberto, o que obrigou o paquete a permanecer atracado até 2 de Setembro, quando as inspecções técnicas e a sociedade classificadora deram o navio como pronto e foram passados os certificados respectivos. Foi com um enorme esforço da tripulação que se ultrapassaram dificuldades técnicas de última hora, naturais após uma intervenção tão profunda como aquela a que o FUNCHAL foi submetido, mas que se traduziram em notícias especulativas por parte da imprensa, em Portugal e na Suécia.
Tudo acabou por ser ultrapassado e a 2 de Setembro de 2013 o FUNCHAL reentrou ao serviço com o primeiro cruzeiro da companhia Portuscale, uma viagem de 8 dias à Escócia, a que se seguiu, de 9 a 20 de Setembro, o cruzeiro Rota dos Vinhos, com saída de Gotemburgo e final em Lisboa. Na tarde de 20 de Setembro o FUNCHAL largou para os Açores, numa espécie de cruzeiro nostálgico, tendo sido recebido com muito entusiasmo pelos Açorianos.
De regresso a Lisboa a 29 de Setembro, o FUNCHAL saiu na manhã seguinte para o Mediterrâneo, com escala técnica em Gibraltar, para abastecimento de combustível, e efectuou de 4 a 16 de Outubro, um cruzeiro com largada de Nice, escalas em Civitavecchia, Kusadasi, Dikili, Kavala, Pireu, Nauplia, La Valetta, transito pelos canais de Messina e Corinto e desembarque no Mónaco, de onde o navio regressou a Lisboa, com novo abastecimento de combustível em Gibraltar e entrada em Lisboa na manhã de 21 de Outubro, quando atracou em Santa Apolónia, onde permanece, estando a decorrer a bordo diversas reparações e melhoramentos.
Entretanto o próximo cruzeiro do FUNCHAL tem um significado muito especial: o navio sai de Lisboa a 29 de Dezembro rumo ao Funchal para a famosa passagem de ano, de 31 de Dezembro a 1 de Janeiro. O FUNCHAL regressa assim à Madeira na altura mais nobre possível, reatando a tradição da realização de cruzeiros de Lisboa ao Funchal com paquetes portugueses, que nas décadas de 1960 e 1970 se chegaram a realizar com três navios em simultâneo com 1600 passageiros a bordo.
Será a décima segunda vez que o FUNCHAL passa o fim de ano na baía que lhe deu o nome, a primeira das quais em 1961-62 e a mais recente na passagem de 1974 para 75. O cruzeiro de fim de ano terá a duração de uma semana, visitando ainda Safi, em Marrocos, porto que dá acesso a Marrakech, antes de regressar a Lisboa a 5 de Janeiro de 2014.
Com a próxima ida à Madeira, o FUNCHAL regressa às suas origens, pois foi construído principalmente para servir esta ilha e apoiar o seu desenvolvimento turístico. Em muitos aspectos o FUNCHAL é agora um paquete novo. Se exteriormente parece ter retomado as cores da fase inicial da Empresa Insulana, por dentro a perspectiva é outra. Os espaços públicos e os camarotes foram totalmente renovados, apresentando agora uma decoração mais contemporânea, ainda que respeitando os espaços e estilo clássico originais do navio. A escolha de cores e materiais utilizados dão a impressão de maior espaço interior, a substituição das madeiras decorativas originais, obrigatória por via da nova convenção SOLAS desde 2010 por materiais incombustiveis a imitar madeira funcionou bem, e no seu conjunto os novos interiores mostram agora um navio ainda mais acolhedor e confortável.
Mantiveram-se os salões principais Gama e Ilha Verde, bem como o bar Porto, mas criaram-se novos espaços como o Havana Cigar Club, a biblioteca e sala de jogos, casino e sala de crianças, ou o espaço comercial, muito melhorado e ampliado. Os decks e as áreas exteriores acessíveis aos passageiros foram também melhoradas de forma inteligente, com destaque para a piscina e bar respectivo e para o pavimento superior, junto à chaminé. Todas estas transformações fazem do FUNCHAL um navio de sonho de onde não apetece nunca desembarcar, sendo tudo isto complementado com a mesma tripulação excelente de sempre.
Por tudo isto, o regresso do FUNCHAL é a melhor surpresa de 2013 para quem gosta de viajar no mar. O navio está lindíssimo.Texto e imagens /Text and images copyright L.M.Correia. Favor não piratear. Respeite o meu trabalho / No piracy, please. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Click on the photos to see them enlarged. Thanks for your visit and comments. Luís Miguel Correia

terça-feira, abril 15, 2014

FUNCHAL a sair de Lisboa para os Açores


Paquete FUNCHAL fotografado a sair de Lisboa no Cruzeiro do Senhor Santo Cristo, aos Açores, em 1982. Na época o FUNCHAL era propriedade da CTM - Companhia Portuguesa de Transportes Marítimos e operava fretado à Agência Abreu diversos meses do ano, o que aconteceu até 1985. Fiz esta fotografia de bordo de um rebocador após manobra de desatracação do FUNCHAL. Texto e imagens /Text and images copyright L.M.Correia. Favor não piratear. Respeite o meu trabalho / No piracy, please. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Click on the photos to see them enlarged. Thanks for your visit and comments. Luís Miguel Correia

quinta-feira, abril 03, 2014

Escudo da Cidade do Funchal


A renovação do Paquete FUNCHAL efectuada em 2011-2013 permitiu melhoramentos importantes ao nível da decoração dos espaços públicos interiores, que passaram a contar com diversos paíneis de azulejos da fábrica Viúva Lamego. Um desses paineis destaca a ligação do Paquete à cidade que lhe deu o nome, apresentando o escudo com as armas da cidade e um arranjo com esterlícias, de que apresentamos um pormenor. Os paineis de azulejos têm sido muito apreciados, em especial por passageiros estrangeiros. Texto e imagens /Text and images copyright L.M.Correia. Favor não piratear. Respeite o meu trabalho / No piracy, please. For other posts and images, check our archive at the right column of the main page. Click on the photos to see them enlarged. Thanks for your visit and comments. Luís Miguel Correia